Em 21 de agosto de 1940, na Cidade do México, Leon Trotsky era assassinado por um agente do stalinismo. Mas, apesar desse brutal atentado contra o desenvolvimento da linha revolucionária liderada por Trotsky, o imperialismo e seus agentes não conseguiram desfazer-se dele. Hoje, há 80 anos de sua morte, quando no mundo se desenvolve uma crise econômica de características históricas, em meio a uma pandemia produto da relação do capitalismo com a natureza, a burguesia continua vendo-se perseguida pelos fantasmas que acreditava estar bem mortos e enterrados. Em sua decadência atual, uma classe tão parasitária como a burguesia, volta a sentir que está em perigo. E, em certa medida, está certa porque começou a romper-se todo o andaime de pós-guerra e as instituições e pactos com diferentes Estados que sustentavam seu equilíbrio mundial. Assistimos atualmente a uma decomposição do imperialismo. Os processos radicalizados que se deram nos EUA depois do assassinato de George Floyd pela polícia, e que expressou uma crise política no coração do imperialismo, ainda não foi resolvido. As ideias e a ação revolucionárias de Trotsky seguem vigentes hoje como guia para os marxistas revolucionários do século 21, que assumimos as tarefas históricas da luta contra o capitalismo.
O legado teórico e político de Trotsky nos permite encarar estes desafios a partir de uma perspectiva revolucionária. Quer dizer, aplicar o marxismo enquanto método de análise das relações sociais a fim de transformá-la; ou seja, enquanto guia para a ação revolucionária.
Atualizar a teoria marxista implica avançar na elaboração feita por Trotsky quanto à Teoria da Revolução Permanente. Isto é, como ele mesmo dizia: desenvolver o caráter da revolução, seu nexo interno e o método da revolução internacional em geral. Este último ponto é o que devemos desenvolver no calor dos elementos de decomposição do capitalismo e os processos de assimilação nos ex Estados operários.
A ideia permanentista que Trotsky incorporou e desenvolveu é um dos aportes mais importantes da teoria marxista. Esta permite entender o desenvolvimento dos conceitos e suas transições, para o estudo científico das leis da economia capitalista, suas instituições – o sistema de Estados e as formas de Estado, como o bonapartismo –, os processos de luta de classe na relação com a revolução socialista e as etapas da ditadura do proletariado. Esta teoria ficou tão esquecida, que aqueles que tentaram “atualizá-la” o fizeram atualizando de forma reformista as táticas para se adequar à época do pós guerra entre dois sistemas e assim se adaptar à consciência vigente nesse período.
Trotsky teve que discutir, frente a traição da III Internacional stalinizada, a recuperação do método e a mecânica do programa. É por isso que elaborou o Programa de Transição, que, como ele dizia, nos deixa no limiar da revolução. Colocava muita ênfase em demonstrar que este programa era um sistema de reivindicações transitórias que propunha-se a atacar as bases do regime burguês. Ou seja, desenvolver uma das premissas estratégicas da III Internacional em sua fase revolucionária, que era a de desorganizar a burguesia.
A formação da IV Internacional tentou criar uma nova direção revolucionária, com um programa de transição, que foi a expressão das conclusões da Revolução Russa generalizada para todo um processo. Colocou as tarefas históricas do proletariado para destruir o sistema capitalista. E o expressou desta maneira: “A Quarta Internacional pode ser definida em três palavras: Pela ditadura do proletariado!”
Extrair as lições programáticas das distintas tendências centristas que dirigiram a IV Internacional até a sua virtual desaparição é uma tarefa necessária para recuperar o Programa de Transição das influências estatista, sindicalista e reformista que levaram muitas correntes à degeneração e à adaptação ao sistema capitalista.
Reconstruir a IV Internacional é tentar superar a crise de direção revolucionária e preparar a luta pelo poder, recuperar o programa de transição e implementar a ação revolucionária diante de uma crise mundial que segue seu curso.
Os revolucionários, nos encontramos frente a processos históricos inéditos, um processo de decomposição do imperialismo e um processo de assimilação dos ex estados operários. Mas, temos ferramentas teóricas e políticas legadas do marxismo. A teoria de Marx e Engels, a teoria da revolução permanente, a teoria do imperialismo, a teoria do partido revolucionário, o programa das internacionais em sua fase revolucionária, o programa de transição e tantas lições programáticas de processos vivos de luta de classe.
A TRQI busca avançar no plano da teoria e da prática com a firme convicção de que devemos intervir como uma nova geração de revolucionários que rompa com as ideias dos centristas trotskistas do pós-guerra, na necessidade de regenerar o movimento operário e forjar uma vanguarda revolucionária que lute pela reconstrução da IV Internacional, pois defendemos que é a única forma de se recuperar a estratégia marxista.
Frente a este cenário de crise mundial, pandemia e crise política nas principais potências imperialistas, chamamos a reorganizar as forças do trotskismo que ainda sustentam a necessidade da ditadura do proletariado. A Conferência Latino Americana e dos EUA, chamada pela FIT-U (Argentina) demonstrou um grande limite, já que em suas resoluções não figuram nem a perspectiva da ditadura do proletariado, nem a luta pela reconstrução da IV. A aceleração da crise impõe o chamado a uma Conferência Internacional, mas é imperativo que retome as tarefas históricas e busque abordar a crise de direção revolucionária no calor da situação mundial convulsiva.